No Dia da Mentira (ou dos Tolos), o Ibovespa terminou com forte queda de 0,87%, aos 126.990 pontos, uma perda de mais de 1,1 mil pontos. O que pode parecer mentira, diante de uma sequência de duas altas para fechar março e o primeiro trimestre, abril começou com apreensão. O dólar comercial também refletiu o sentimento, com alta marcante de 0,87%, a R$ 5,05; bem como os DIs (juros futuros), que subiram por toda a curva.
O motivo para tanto desânimo veio de Nova York, onde o 1º de abril é chamado de Dia dos Tolos. A verdade dos fatos pesou. Na Sexta-feira Santa, feriado tanto nos EUA, quanto no Brasil e na Europa, o governo norte-americano divulgou a inflação de consumo pessoal, o famoso PCE, índice preferido do Fed, para moldar sua política monetária, que veio em linha com o esperado, mostrando uma inflação ainda alta, porém mais comportada. O negócio é que hoje a leitura do PMI pelo ISM mostrou uma força ainda consistente da economia dos EUA, o que sugere que o Fed pode adiar o começo do corte de juros. O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse na sexta-feira (29) que não é necessário apressar um corte nas taxas de juros com o crescimento econômico ainda forte e a inflação acima da meta. “Isso significa que não precisamos ter pressa para cortar”, disse o chefe do banco central a uma rádio. “A economia e o mercado de trabalho estão fortes neste momento. A inflação vem caindo. Podemos e seremos cuidadosos com esta decisão.”
O desânimo foi transferido para hoje, primeiro dia útil após as declarações e o PCE. O mercado reduziu consideravelmente a convicção de que o Fed abrirá o ciclo de relaxamento monetário na reunião de junho. A mudança foi captada na plataforma do CME Group que monitora o comportamento da curva futura. A ferramenta apontou no início desta manhã 53,6% de chance do banco central cortar a taxa básica em 25 pontos-base em junho, comparado com cerca de 60% na última quinta-feira (28). De acordo com economistas do Bradesco, a condução da política monetária nos EUA permanece como o principal tema global, enquanto a atividade industrial da China expandiu-se no ritmo mais rápido em 13 meses, ficando acima das expectativas, com a confiança empresarial atingindo um pico em 11 meses, mostrou a leitura de PMI de março.
Ibovespa cai, mesmo com alta de blue chips
Os dados chineses impulsionaram o minério de ferro, que ajudou a Vale (VALE3) a manter bom desempenho hoje e subir 0,64%. A Petrobras (PETR4) também avançou, com 0,78%, com os preços internacionais do petróleo em alta, por conta da escalada das tensões no Oriente Médio, com a embaixada do Irã em Damasco, capital da Síria, sendo atingida por um míssil, em ataque atribuído a Israel.
O setor financeiro pesou na Bolsa hoje, com B3 (B3SA3) liderando as negociações e caindo 1,83%. Itaú Unibanco (ITUB4) despencou 3,42%, puxando as quedas do setor. O varejo também teve problemas, com os DIs refletindo a preocupação com os juros nos EUA e avançando: Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, perdeu 1,11%. Por outro lado, vale destacar o avanço de Hapvida (HAPV3), com 6,49%, após balanço considerado “uma grata surpresa”. IRB (IRBR3) acabou com alta de 2,44%, com diretoria voltando a vislumbrar a possibilidade da distribuição de dividendos no próximo ano.
Por fim, na rodada de dados de hoje, o Brasil mostrou alguns: PMI industrial caiu para 53,6 em março, ainda assim o segundo maior patamar desde 2022; e o Porto de Santos movimentou 30,4% mais cargas em fevereiro, indicando uma economia mais robusta. Dados podem ser considerados fatos, mas não mostram toda a verdade. O mercado sublinhou hoje que é preciso interpretá-los bem para não fazer papel de bobo. (Fernando Augusto Lopes)
Fonte: Info Money