Dos 9,63% que o dólar subiu em um ano, 3,88% foram no último mês; e 1,90% desde quinta (6), quando a moeda americana saiu de R$ 5,25 para R$ 5,35 – o fechamento de hoje, maior cotação desde janeiro de 2023. Cortesia do exterior e de Brasília.
Os dados de emprego dos EUA mostram uma economia forte, má notícia para quem espera pelo início dos cortes nos juros por lá. E com os juros do BC americano em 5,50% ad eternum a moeda americana ganha força sobre todas as outras moedas – real incluído. É algo tão inevitável quando uma lei da física.
Só que Brasília não tem ajudado o real. Na última sexta, Haddad deu a entender que a Fazenda não tem a autonomia necessária no controle dos gastos públicos. E o desmoronamento da confiança na parte fiscal, no projeto do governo como um todo, enfraquece a moeda brasileira. Mais sobre o assunto adiante. O ponto é que ele levanta uma questão: até onde o dólar pode chegar? Para entender isso, temos de olhar para a história recente.
O pior momento do câmbio na história do real foi em outubro de 2002 – logo após a eleição de Lula para seu primeiro mandato. Em valores nominais, o dólar foi R$ 3,85. Mas valores nominais, que não levam em conta a inflação, não dizem nada.
Para ter uma medida, é preciso colocar ali a inflação do real no período e descontar a do dólar. Fazendo essa atualização, temos que o dólar chegou a exatamente R$ 8,00 de hoje naquele momento. Trata-se de um termômetro para entender o que pode acontecer com o dólar numa situação de desconfiança extrema.
Outra situação fora da curva, mais recente, foi a da pandemia. Em junho de 2020, o dólar bateu em R$ 6,39 de hoje (bem mais do que R$ 5,82 em valores da época dão a entender).
O outro lado. No início do real, quando o câmbio era controlado com mão de ferro pelo BC, a moeda americana chegou a R$ 0,83 (fevereiro de 1995). Dá R$ 2,68 em dinheiro atual. E essa não foi a menor cotação da história em termos reais, que levam em conta a inflação. Essa veio em agosto de 2011: R$ 2,33 de hoje (R$ 1,57 da época).
De volta para o futuro agora
A ruína do “modelo Brasil”
Nas palavras de um trader de mercado, a alta do dólar significa que “o investidor desistiu da aposta no ‘modelo Brasil'”.
“Modelo Brasil” é algo que dá para definir a partir de uma fala do empresário Rubens Ometto (Raízen/Cosan), no último sábado (8): aumento de carga tributária para viabilizar a alta de gastos do governo. E a resposta a esse modelo pode ser não apenas o fim dos cortes na Selic, mas o aumento de juros.
O mal-estar com a política fiscal vem crescendo desde a mudança da meta para 2025 e 2026, anunciada em abril.
E cresceu muito ao longo da semana passada. Pesou negativamente o reajuste do salário mínimo – ao qual várias outras despesas públicas são vinculadas. E a decisão do governo de editar a Medida Provisória que restringe o ressarcimento de créditos presumidos de PIS e Cofins – ela tem forte impacto sobre a vida de grandes empresas, especialmente sobre exportadoras. A medida tem como objetivo compensar a prorrogação da desoneração da folha de pagamento para 17 setores.
E o clima fechou de vez na sexta-feira passada, quando o ministro Fernando Haddad se reuniu com representantes de gestoras de investimento e de instituições financeiras em evento promovido pelo Santander. No encontro, Haddad disse que, sim, concorda com as preocupações do mercado em relação ao crescimento de gastos. Mas também deixou claro que a Fazenda não tem plenos poderes para decidir: que no fim das contas, quem decide a política fiscal é Lula.
Durma-se com um barulho desses.
Fonte: Invest News