Inflação de 12 meses chega a 4,5% e alcança o teto da meta para este ano

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador da inflação oficial, acelerou de 0,21% para 0,38%, entre junho e julho, e alcançou o teto da meta, de 4,50%, no acumulado em 12 meses.

Conforme os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a variação do indicador em julho foi puxada pelo grupo de “transportes”, que registrou aumento de 1,82%, devido aos reajustes nos combustíveis e nas passagens aéreas. Com isso, o impacto desse grupo no IPCA foi de 0,37 ponto percentual. Dos nove grupos de produtos pesquisados, sete registraram alta de preços. Os itens “alimentos e bebidas” e “vestuário” registraram deflação, de 1% e 0,02%, respectivamente.

O IPCA de julho ficou acima da mediana das estimativas do mercado coletadas no boletim Focus, do Banco Central, de 0,33%. De acordo com especialistas, aumentaram as chances de o IPCA estourar o teto da meta. Nesta semana, ao divulgar a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC já havia deixado a porta aberta para aumento da taxa básica da economia (Selic), atualmente em 10,50%.

“A inflação no teto da meta preocupa no que pode acontecer com os juros. Por enquanto, estamos prevendo a manutenção da Selic”, disse Fábio Romão, economista sênior da LCA Consultores. A projeção da consultoria para o IPCA de 2024, de 4,4%, está com viés de alta após o resultado de julho.

Romão lembrou que, na semana passada, a LCA elevou de 4,2% para 4,4% a previsão de alta do IPCA deste ano, após o governo aumentar a taxação de impostos sobre os cigarros. “Esse número mais forte do IPCA de julho somente veio a reforçar essa mudança”, afirmou.


Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, revisou de 4,47% para 4,74% a previsão para o IPCA deste ano, ou seja, acima do teto da meta. Contudo, ele acha que o Banco Central vai evitar elevar a Selic neste ano, pois o dólar deu uma arrefecida frente ao real e voltou para o patamar de R$ 5,60. “O resultado do IPCA de julho acima do esperado apenas precifica uma inflação mais alta para o mercado, mas, como o dólar baixou para R$ 5,60, a pressão sobre preços deu uma amenizada”, destacou.

Velho reconheceu que o BC deixou a porta aberta para aumento de juros na ata do Copom, mas a probabilidade não é majoritária. “O BC deve preferir prolongar a Selic no atual patamar, mas não deve aumentar os juros”, apostou.

 

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, ressaltou que o IPCA de julho no teto da meta só não foi maior por conta da deflação do grupo de alimentos, que tirou 0,22 ponto percentual da alta geral do indicador. “Sem a queda em alimentos o IPCA seria bem mais alto. Enfim, a leve piora nos preços dos serviços subjacentes (com alta de 4,97%) e nos intensivos em trabalho (de 5,62%) reforça a cautela do Copom reiterada na ata desta semana”, destacou.

De acordo com o Luis Otavio Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, o dado do IPCA de julho foi muito influenciado por questões pontuais. “Noventa por cento da alta do índice foi por conta das altas nos preços das passagens aéreas, da energia elétrica e da gasolina”, explicou ele, que prevê taxa negativa do indicador de carestia em agosto.

 

A economista Luciana Rabelo, do Itaú Unibanco, alertou que o dado do IPCA de julho mostrou que “o melhor momento qualitativo da inflação parece ter ficado para trás”. “Esperamos que o componente de serviços siga pressionado, refletindo o mercado de trabalho apertado, assim como os preços industriais, refletindo o câmbio mais depreciado”, acrescentou. Pelas projeções do Itaú, a taxa Selic seguirá em 10,50% até o fim de 2025, passando para 9,5%, no fim de 2026.

 

Cautela

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, minimizou os dados da inflação oficial no teto da meta e admitiu que o governo esperava essa aceleração do IPCA e acrescentou que será preciso “analisar com calma” os próximos dados. “Tem muita coisa para acontecer este ano ainda, sobretudo no cenário internacional. Temos que ter cautela agora”, disse. Ele ainda destacou que o Banco Central, agora, está mirando a inflação de 2026 e não há como corrigir a deste ano aumentando juros. “É preciso ver a trajetória da inflação ao longo dos meses para saber qual é o remédio adequado para conter um eventual aumento de preços”, declarou.

Para o ministro, a boa notícia do IPCA foi em relação à queda nos preços dos alimentos. “Nós temos que acompanhar sem ansiedade e tomar as medidas necessárias para o Brasil continuar crescendo e a renda do trabalhador continuar subindo”, disse ele, garantindo que o governo tomará as medidas necessárias para garantir o crescimento do país.

 

Fonte: Correio Braziliense